segunda-feira, 27 de abril de 2009

VAZAMENTOS E PUNIÇÕES

De primeiro havia dentro das repartições públicas uma coisa chamada espírito de corpo.

Todos torciam por todos e ninguém derrubava ninguém.

E se protegiam das ondas de fora.

Hoje, dentro das próprias corporações, essa coisa não mais existe.
E se não existe é porque há uma divisão, onde o lema "cada um por si" já impera.
Quando isso acontece dentro de um órgão, que deveria manter a unidade em prol dele e do país, é porque a fissura da inveja ou da cobiça subiu à cabeça de muitos, e todos lutam uns contra os outros para serem reconhecidos por seus serviços.
É nesse instante que a perversão da 'Servidão Voluntária" se acende na estrutura moral de cada um, é esquecida a função para a qual se prestam e uma luta desumana é travada entre eles mesmos pela ascensão ou pelo poder.
O servil voluntário é um arremedo de gente, amoral e aético, perambulando pelo solado do sapato de quem tem poder ou dinheiro.
Na busca de um ou do outro, atropela a ética, desconhece a urbanidade, olvida colegas, e se for possível pisa no pescoço da própria mãe para chegar ao topo.
Escrevo isso, depois de ler e pensar sobre o que escreveu o jornalista
Luiz Carlos Azenha em seu blog a respeito de punições sobre vazamentos na Polícia Federal.
Delegado Bruno não foi punido por vazar fotos do dinheiro;
pegou 9 dias de suspensão por mentir a superior

Atualizado em 27 de abril de 2009 às 21:51 Publicado em 27 de abril de 2009 às 21:30
por Luiz Carlos Azenha

O relatório do delegado Amaro Vieira, já devidamente vazado para a imprensa, traz indícios fortes de que o delegado Protógenes Queiroz entregou para a TV Globo informações sigilosas sobre a Operação Satiagraha. Também já não é exatamente uma novidade que uma equipe da emissora foi a responsável pela gravação de vídeo da tentativa de suborno a um delegado federal por parte de prepostos de Daniel Dantas -- crime pelo qual o banqueiro já foi condenado.

Pessoalmente, já disse que sou contra essa história de jornalista ter "delegado de bolso". Nunca tive um. Relação íntima com autoridade nos leva, quase sempre, a terreno pantanoso: o repórter se deixa usar hoje de olho no furo de amanhã. Mas minha opinião pessoal não elimina um fato: se forem investigados TODOS os vazamentos de informações sigilosas muita gente vai perder o emprego.

O que nos leva de volta ao delegado Protógenes. Ele não responde apenas a inquérito sob acusação de vazar informações sigilosas. Já foi "afastado" do cargo enquanto responde a processo administrativo, acusado de participar de campanha política. O delegado corre o sério risco de perder o emprego.

Vejam só como são as coisas. Lembram-se do delegado Bruno, aquele que vazou as fotos do dinheiro dos aloprados petistas na véspera do primeiro turno das eleições presidenciais de 2006? Ele continua firme e forte, servindo à Delegacia de Repressão aos Crimes Fazendários, em São Paulo.

Se o vazamento de Protógenes ainda está em investigação, o do delegado Bruno nunca foi investigado pela imprensa. Perguntas básicas sobre o caso nunca foram respondidas. O que Bruno foi fazer na perícia de um caso do qual já não cuidava? Ele entregou as fotos do dinheiro primeiro para a TV Globo; foi a Globo que sugeriu a ele que vazasse, no dia seguinte, para os demais órgãos de imprensa? Por que o delegado, ao entregar as fotos a um grupo de jornalistas, disse 'essa aqui é a foto da Globo'? Por que Bruno insistiu tanto, na conversa gravada com os repórteres, em disseminar as imagens no maior número possível de meios? Ele agiu por conta própria ou a mando de algum grupo político?

O delegado Bruno, de fato, enfrentou um processo administrativo interno. Depois de muito fuçar descobri a "sentença" a que ele foi "condenado", no dia 21 de outubro de 2008: 9 dias de suspensão.

O superintendente da PF em São Paulo justificou a punição "por restar comprovado nos autos que o servidor, por suas próprias razões e sem autorização de quem de direito, por meio da mídia, trouxe a público fatos que estariam ocorrendo no âmbito do Departamento de Polícia Federal e no de sua vida funcional, bem como concedeu entrevistas controversas, provocando perplexidade pública, em razão dos seus conteúdos contraditórios; e por ter faltado a verdade no exercício de suas funções, na medida em que afirmou ao Sr. Superintendente Regional em São Paulo que um CD contendo fotos havia sido furtado de seu poder, sendo tal afirmação inverídica, praticando, desta forma, as transgressões disciplinares previstas nos inc. VIII e XVII, do art. 43, da Lei no. 4.878, de 03.12.1965".
Bruno foi punido pelos artigos 8 e 17:

VIII - praticar ato que importe em escândalo ou que concorra para comprometer a função policial;

XVII - faltar à verdade no exercício de suas funções, por malícia ou má-fé.
Ou seja, o delegado Edmilson Bruno não foi punido internamente nem mesmo por vazar dados de um inquérito que corria sob segredo de Justiça, embora isso esteja previsto na lei 4.878 mesmo para documentos oficiais não reservados:

XLIII - publicar, sem ordem expressa da autoridade competente, documentos oficiais, embora não reservados, ou ensejar a divulgação do seu conteúdo, no todo ou em parte.

No Brasil, como se vê, até alguns vazamentos são "mais iguais" que outros. Bruno fez o "vazamento certo" -- com conhecimento e cumplicidade da mídia. Pegou nove dias de gancho por mentir ao superior -- com a conivência de quatro repórteres que ouviram que ele faria isso e ficaram caladinhos. Ouça aqui e aqui a gravação.

Protógenes fez o "vazamento errado", daqueles que desagradam ao patrocinador. Pode perder o emprego e ir em cana.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A CORRUPÇÃO VENCEU MEU PAÍS.
A população brasileira pouco sabe sobre esse embate travado entre os poucos justos e os muitos corruptos, entre a pouca informação e as montanhas de matérias escondidas pelos principais veículos de comunicações do Brasil, encobrindo práticas lesivas aos cofres públicos e a seu povo.
A corrupção venceu.
Essa vitória ocorreu no momento do afastamento das funções da polícia federal do delegado Protógenes Queiroz.
O dinheiro roubado dos cofres da nação compra consciencias relapsas de pessoas sem nenhum compromisso com a moral e a ética.
Enodoa várias profissões, entre elas a de jornalista.
Sobre isso, reproduzimos o brilhante artigo do jornalista Leandro Fortes, que discorre sobre o momento do jornalismo brasileiro e sua atuação na cobertura da Operação Satiagraha.
Esse artigo está no site da revista Carta Capital e reproduzido pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em blog
Conversa Afiada.
O Conversa Afiada reproduz este artigo de Leandro Fortes (**), extraído do site da revista Carta Capital:
Sobre jornalistas e sabujos 13/04/2009 16:08:03
Leandro Fortes*
Se alguém tinha alguma dúvida sobre o consórcio midiático montado para desqualificar o trabalho do delegado Protógenes Queiroz e livrar a cara do banqueiro Daniel Dantas, basta chafurdar na série de recentes posts de blogueiros da linha auxiliar do esgoto, escalados para não contaminar as páginas com o lixo que realmente interessa aos jornais e revistas envolvidos nessa estratégia. A cobertura feita pelos jornalões do depoimento de Protógenes na CPI dos Grampos, na quarta-feira, dia 8 de abril, é o resumo dessa posição definitiva contra os efeitos da Operação Satiagraha, cujo emblema é a salvação não só de Daniel Dantas, mas da elite econômica e política ligada a ele. Contam, para tal, com a conivência obsequiosa do governo federal.
Basta ler o noticiário sobre a ida de Protógenes à CPI dos Grampos, onde o delegado deu um baile na bancada de Dantas e desmontou a estratégia de desmoralização do deputado Marcelo Itagiba, inocentemente montada a partir da exibição de um powerpoint com supostas contradições do delegado. Vaiado pela platéia e execrado pelos colegas, Itagiba foi obrigado a enfiar a projeção no saco e a ouvir, pela primeira vez, em público, uma verdade que ele só consegue manter em surdina por que tem o apoio cínico de quase toda a mídia: na campanha de 2006, ele foi financiado por Dório Ferman, executivo do Grupo Opportunity, do banqueiro condenado Daniel Dantas. Logo, está eticamente impedido de ser o chefe da cruzada dantesca, ora em andamento no Congresso Nacional. Quem jogou isso na cara dele, diante do mundo, foi o deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio, mas quem quiser que tente se aventure a buscar a relevância desse fato nos jornalões ou nos portais corporativos da internet. Será uma garimpagem difícil.
Parte da imprensa e dos blogs de repetição montados nas redações tornaram-se porta-vozes da nova Polícia Federal comandada pelo delegado Luiz Fernando Corrêa, sobre quem paira uma denúncia gravíssima de tortura contra uma empregada doméstica no Rio Grande do Sul. Trata-se de assunto ignorado pela chamada “grande mídia”, cada vez mais um aglomerado de jornais e revistas decadentes onde não há mais espaço para a verdade, nem muito menos para a criatividade e o humor. Movidos por interesses outros, que não o jornalismo, os mandatários dos jornais brasileiros dedicam-se a um rancor reacionário contra Protógenes e a Satiagraha, doença infantil do elitismo nacional que se espalha como catapora pelas redações. E nisso reside um dado importante sobre a luta dos patrões contra o diploma de jornalista. Eliminado esse obstáculo, a formação dos jornalistas ficará a cargo desses cursinhos de redações, de verniz teen, mas velhíssimos na forma e nos conceitos, voltados para criar monstrinhos competitivos despojados de qualquer consciência crítica sobre o que escrevem, apuram e publicam.
Evolução do jornalismo “fiteiro”, como já bem conceituou o jornalista Alberto Dines, ao discorrer sobre a reprodução pseudojornalística de gravações e dossiês entregues sob encomendas às redações, a utilização dos espaços dos blogs para publicação de vazamentos seletivos é o mais recente movimento editorial da mídia brasileira. O inquérito do delegado Amaro Vieira, sobre vazamentos de informações da Satiagraha, adotou um procedimento programado de sangramento controlado, a ponto de se tornar, ele mesmo, o mais completo emblema sobre vazamento funcional da história recente do Brasil. É um triste expediente de desmoralização da PF cujo objetivo primordial é desconstruir, pedra por pedra, a memória da gestão do delegado Paulo Lacerda.
Afastado da PF e, depois, da Abin, Lacerda paga o preço por ter ousado retirar a Polícia Federal do gueto exclusivo da fracassada guerra contra as drogas, fonte permanente de corrupção e violência, e ter dado à corporação, nos limites das melhores doutrinas republicanas, status real de polícia judiciária da União. O processo que resultou no expurgo de Paulo Lacerda foi baseado num grampo telefônico jamais provado, publicado pela revista Veja e replicado, sem qualquer apuração suplementar, por dezenas de outros veículos de comunicação. É um estudo de caso de irresponsabilidade jornalística e inépcia policial. Passados sete meses desde a abertura do inquérito sobre o caso na PF, até agora o único resultado visível do processo foi a transferência de um dos delegados responsáveis pelo inquérito para Roma, talvez por bons serviços prestados.
As novas gerações de jornalistas brasileiros estão sendo desnutridas, dia a dia, de senso crítico e capacidade de contestação. A cobertura do depoimento do delegado Protógenes Queiroz gerou uma série de matérias absolutamente iguais, senão no conteúdo, na intenção. Ao ler os jornais no dia seguinte ao depoimento, tive a súbita sensação de ter participado de outro evento, embora tenha estado, por muitas horas, no mesmíssimo plenário do corredor das comissões da Câmara dos Deputados. Com pequenas variações sobre o mesmo tema, a mídia centrou-se deliberadamente no fato de Protógenes ter se negado a responder perguntas que não tivessem relação com escutas ilegais, objeto da CPI dos Grampos. O delegado negou-se a cair numa ratoeira preparada à luz do dia, enfeitada por um powerpoint de concepção primária, mas acabou, como de costume, condenado por isso. Perdeu-se, na bacia das alminhas pequenas da pautas pré-concebidas, a chance de contar uma boa história, dessas das quais são feitas o bom jornalismo. Restou aos leitores uma narrativa insossa e mal humorada, resultado da crescente burocratização da reportagem brasileira.
O elevado grau de sabujismo de repórteres brasileiros, hoje, na imprensa brasileira, me preocupa como jornalista e como professor de jornalismo. Não se trata, devo esclarecer, de uma crítica pontual a fulano ou a sicrano, mas de um fenômeno a ser considerado, estudado e definido como objeto de avaliação acadêmica e profissional, aí incluídas as participações dos sindicatos, da Fenaj e da ABI. Escudados pela desculpa da sobrevivência pura e simples, os repórteres estão indo às ruas com pouca ou nenhuma preocupação em relação à verdade factual, adestrados que estão por uma turma barra pesada que tem feito da atividade jornalística um exercício de servilismo muito bem remunerado, é claro.
As precoces reações corporativas, apoiadas incondicionalmente pelos suspeitos de sempre, contra a anunciada Conferência Nacional de Comunicação, são só um prenúncio da guerra que se anuncia toda vez que a sociedade reclama pela democratização da mídia e o pleno acesso à informação no Brasil. O primeiro movimento da reação já foi dado e é bem conhecido: a desqualificação dos protagonistas, como o que começou a ser feito em relação ao jornalista Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. O passo seguinte será o de tentar passar para a sociedade a impressão de que os fundamentos da conferência ferem o sagrado direito de liberdade de imprensa e de expressão. E sabem quais são esses fundamentos? O controle social sobre a baixaria da TV, fiscalização severa sobre as concessões de telecomunicações e o fim das propriedades cruzadas no setor, o que irá asfixiar os oligopólios midiáticos que controlam jornais, rádios, portais de internet e emissoras de televisão. Oligopólios econômicos e políticos que estão na origem da degradação política brasileira, da ignorância e da miséria social da maior parte da população.
Resta saber de que lado nós, jornalistas, vamos estar nessa guerra.
(*)Leandro Fortes é autor de reportagens na Carta Capital sobre as atividades empresariais do Supremo Presidente do Supremo, como ele manda em Diamantino, Mato Groso; e a acusação de tortura que pesa sobre o Diretor Geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, esse mesmo que, ontem, afastou a bem do serviço publico o ínclito delegado Protogenes Queiroz. Quanto a ele, Corrêa, não há esse risco: Leandro demonstrou que Corrêa devidamente arquivou o inquérito que corria na PF sobre a sessão de tortura a que esse refere a reportagem. Leandro é também autor do livro “Cayman - o dossiê do medo”, em que se vê que o presidente Fernando Henrique Cardoso impediu que se apurasse a denúncia de que Sérgio Mota tinha aberto uma conta secreta em nome deMario Covas, José Serra e Fernando Henrique em Luxemburgo. Clique aqui para ler “Falta alguém em Luxemburgo”